Questão de fé

Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. Pois está escrito:

Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

História das Assembleias de Deus e a Sociologia da Religião em Max Weber

A sociologia da Religião em Max Weber

Max Weber em seus estudos privilegiou o estudo da religião dedicando ao estudo do fenômeno religioso dando uma contribuição para a sociologia da religião. Weber faz uma sociologia diferente, pois ele não preocupava com as origens das religiões. Weber em seus estudos procurava entender as ideias das religiões são produzidas e difundidas na sociedade e quais as suas causa e conseqüências destas idéias na sociedade.

O estudo da Sociologia da Religião proposto por Max Weber não usava um modelo funcionalista ou o determinismo, e não aceitava o modelo marxista de religião como alienação. Em seu trabalho Weber buscava compreender a sociedade moderna ocidental, que para ele esta sociedade era resultado de fatores históricos que combinou com o contexto da civilização ocidental judaico cristão (TEIXEIRA, 2007, 68).

A religião entendida como elemento fundamental da conduta humana nas diferentes sociedades, facilita o compreender melhor os motivos e intenções de um conjunto de ações sociais (TEIXEIRA, 75). Weber partindo das comparações históricas das diversas práticas religiosas cria tipos ideais. Os tipos ideais proposto por Weber direcionam o olhar para perceber as peculiaridades das tradições religiosas como o protestantismo e a tradição judaica cristã. Os tipos ideais para Weber são construções heurísticas que não representam nenhum fenômeno empírico. São apenas um recurso metodológico, com valor exclusivamente instrumental (TEIXERA 78). Os tipos ideias não correspondem à realidade, mas através dos tipos ideias pode ajudar na compreensão do fenômeno.

Weber utiliza os tipos ideais de ação social como à legitimação de poder dos profissionais religiosos especializados, um desses tipos ideais é o carisma. Para ele o carisma é a qualidade que possui um indivíduo, um dom especial, uma qualidade extraordinária, por exemplo, os profetas do antigo Israel. O individuo que possui o carisma é dotado de um poder sobrenatural ou divino que os outros não possuem, pois somente o individuo que detém o carisma foi agraciado por Deus ou por uma divindade superior.

Max Weber trabalha com três tipos ideais de atores religiosos o sacerdote o profeta e o mago. A definição dada por Weber para cada ator religioso e diferente da definição teológica. Cada ator é dado uma definição conforme as observações feitas por Weber definido como tipos ideias para um estudo da Sociologia da Religião proposto por Max Weber.

O sacerdote como tipo ideal e o individuo que está ligado a uma instituição é o funcionário da religião. O sacerdote é aquele que detém o monopólio o conhecimento, é ele que pode levar o individuo a divindade. O sacerdote é o burocrata da religião, seu carisma não lhe pertence, mas a instituição. O Sacerdote é responsável em manter a ordem a lógica do culto sem ultrapassar o que está posto e quando alguém tenta estabelecer nova ordem ou modelo o sacerdote repreende como heresia.

O profeta proposto por Max Weber como modelo ideal é o indivíduo que possui carisma que lhe é atribuído e socialmente reconhecido. O profeta diferente do sacerdote não é um burocrata ou um mantenedor da ordem, mas é o individuo que no momento da crise ele aparece como alguém para dar soluções. Através do seu carisma propõe rupturas produzindo novas formas religiosas. A atuação do profeta é combatida pelo sacerdote que desclassifica o profeta, diante desta situação o profeta junto com seu grupo ou seguidores forma uma seita.

O mago e o individuo diferente do sacerdote ou do profeta, pois ambos pertencem a uma instituição, o mago não está ligado a nenhuma instituição. O mago é o indivíduo que trabalha de forma autônoma e isolada. O mago é o indivíduo que detém o carisma e por ser possuidor deste carisma ele e capaz de negociar com a divindade a fazer o que ele ordenar. O mago não possui uma igreja, mas uma clientela que vai até ele para pedir um serviço exclusivo para atender suas necessidades imediatas. O mago utiliza dos meios simbólicos do sacerdote, em seu trabalho o mago rouba e manipula os bens religiosos. No entanto o mago e desclassificado pelo sacerdote e pelo profeta, pois ele atua na clandestinidade do trabalho religioso.
O surgimento do pentecostalismo no Brasil sobre um olhar da Sociologia da Religião.

Utilizando dos tipos ideias da Socióloga da Religião feita por Max Weber, pode-se perceber o movimento no campo religioso. Quando olhamos para o modelo do protestantismo no Brasil que gerou o pentecostalismo e o neo-pentecostalismo podemos utilizar o modelo proposto por Max Weber.

Em 2011, no Brasil a maior Igreja pentecostal do país, a Assembléia de Deus, completa cem anos de existência. Ao ler a história do surgimento das Assembléias de Deus deparamos com fatores que podem ser entendidos dentro dos modelos ideias proposto por Max Weber.

Segundo a história narrada por Emílio Conde, a Assembléia de Deus surge no Brasil através de dois missionários que moravam nos Estados Unidos, Daniel Berg e Gunnar Vingren. Os missionários tiveram uma visão de que deveriam partir para pregar o evangelho e o movimento pentecostal para uma missão na cidade de Belém do Para no Brasil.

Os missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren eram da Suécia e foram para os Estados Unidos fugindo da crise econômica que passava a Suécia no inicio do século XX. Daniel Berg e Gunnar Vingren pertenciam a religião batistas e participaram do fenômeno chamado de Avivamento Pentecostal que aconteceu em Los Angeles, este fenômeno era caracterizado por falar em novas línguas, ou a língua do Espírito Santo. Este fenômeno baseado no texto bíblico de Atos dos apóstolos em que narra o momento que os discípulos começaram a falar em outras línguas (CONDE 2006).

Os missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren tiveram a visão que dizia que os dois foram designados anunciar o evangelho e o avivamento pentecostal no Brasil. Daniel Berg e Gunnar Vingren chegaram ao Brasil na cidade do Belém no estado do Para no ano de 1910(CONDE, 2006, p 26).

Daniel Berg e Gunnar Vingren não vieram com intuito de começar uma nova seita, mas anunciar na igreja do Brasil o que estava acontecendo nas igrejas dos Estados Unidos. (CONDE, 2006, p 29). Ao falar da nova experiência religiosa que estava acontecendo nos Estados Unidos, o pastor responsável pela Igreja Batista onde Daniel Berg e Gunnar Vingren estavam congregando proibiu Berg e Vingren de falar sobre o fenômeno dizendo que tudo aquilo não passava de heresia.

Sobre o olhar da Sociologia proposto por Max Weber, o sacerdote tem a função de manter a ordem da instituição e desqualificar o profeta. Neste caso os missionários estavam apresentando algo novo para a comunidade, com um carisma, mas logo foram desqualificados pelo sacerdote.

Apesar do líder da igreja Batista desqualificar os missionários, existia um pequeno grupo na igreja que se ajuntaram aos missionários querendo participar da experiência proposta pelos missionários. O pequeno grupo, logo estava participando dos ensinamentos de Daniel Berg e Gunnar Vingren e tiveram a participar da experiência religiosa, o falar em línguas (CONDE, 2006, p. 30).

Diante das manifestações do fenômeno no pequeno grupo daquela igreja Batista, influenciados pelos dois missionários, surgiu uma batalha dentro do templo entre o pequeno grupo que seguia os missionários e os outros que eram contra a nova doutrina.

No dia dois de junho de 1911, durante o culto realizado a noite, o ambiente dedicado antes a louvores a Deus e à pregação, foi transformado em um verdadeiro campo de batalha, com muita disputa de ponto de vista e duelos de palavras. Alguns crentes, aferrados a um tradicionalismo sem qualquer base bíblica, ameaçavam exaltadamente em punir, castigar ou desprezar os partidários da doutrina pentecostal (CONDE, 2006, p 31).
Esta dissensão ocorrida dentro desta igreja era resultado da defesa daqueles que queriam manter a tradição, manter o monopólio, contra aqueles, os profetas, que apresentaram uma nova realidade ou um novo produto para consumidores que estavam propostos a adquiri-los. Os missionários não tinham nenhuma pretensão de fundar uma nova seita ou religião apenas chegaram com uma linguagem nova e encontraram pessoas que estavam prontas a receber.

Depois de toda embate dentro da igreja o pequeno grupo que era a favor dos missionários e da nova doutrina foram expulsos daquela igreja. A expulsão dos infiéis foi um resultado de um embate no campo religioso, pois aqueles que possuíam o monopólio da salvação sentiram ameaçados diante da oferta proposta pelos profetas.

Segundo a história da igreja Assembléia de Deus, dezessete pessoas entre elas Daniel Berge e Gunnar Vingrer foram expulsos da igreja Batista. Este grupo apoiava os missionários e creditavam na nova doutrina que eles pregavam. O carisma dos missionários ou profetas como proposto por Max Weber gerou uma rupturas produzindo novas formas religiosas.

Após os empolgantes acontecimentos que duraram exatamente dez dias, arbitrariamente da Igreja Batisa, o pequeno grupo, no dia 18 de junho de 1911, junto com Daniel Berg e Gunnar Vingren, na rua Siqueira Mendes, 67, em Belém fundava-se a Assembléia de Deus (CONDE, 2006, p. 32).

Segundo Max Weber a atuação do profeta é combatida pelo sacerdote que desclassifica o profeta, diante desta situação o profeta junto com seu grupo ou seguidores forma uma seita. A Assembléia de Deus surgiu como uma pequena sita que reunia um grupo de dezessete pessoas em volta de dois lideres.
Os acontecimentos que culminaram com a fundação da Assembléia de Deus repercutiram profundamente entre as varias denominações evangélicas. Porem o que sacudiu mais fortemente os chamados crentes históricos foi a atividade e o zelo dos membros da igreja recém-formada. O medo em que a Assembléia de Deus viesse a absorver as demais denominações fez com que estas se unissem para combater o movimento pentecostal. (CONDE, 2006, p. 33)
A Assembléia de Deus começa como uma pequena sita combatida pelas igrejas históricas tradicionais. Segundo Pierre Bourdieu este combate no campo religioso e gerado pelos que possuem o capital especifico que detém o monopólio da salvação. E que possuem a legitimidade para fazer exclusão dos hereges (BOURDEIU, 2002, p59).

A pequena sita que começou com dezessete pessoas em torno de dois missionários, foi ganhando novos adeptos se organizando até tornar uma igreja. Surge então no Brasil uma igreja com uma nova doutrina pentecostal com seu corpo eclesiástico, uma instituição chamada Assembléia de Deus.

Segundo Bourdieu, a seita que alcança êxito tende a se torna igreja, depositaria e guardiã de uma ortodoxia, identificada por suas hierarquias e seus dogmas, fadada a suscitar uma nova reforma (BOURDIEU, 2002, p.60). A instituição organizada com seu sacerdote e com o seu capital religioso logo sofre a concorrência de outros agentes religiosos que apresentam novas mercadorias os consumidores em busca de novidades.

Depois que Assembléia de Deus se institucionalizou surgiu outras seitas dentro desta instituição, pois a instituição tenta manter sua doutrina ortodoxa, mas chega a um determinado momento que é necessário ocorrer uma reforma. Esta reforma é necessária, pois existe uma oferta de bens simbólicos de salvação em que o sacerdote confere aquilo que é legitimo e aquilo que não é legitimo nesta hora aparece outros agentes, o profeta e o mago.

A formação de seita e igreja está dentro da dinâmica do campo religioso que se mobiliza dentro de seu capital específico o capital religioso, e de sua posse. Nesse caso a distribuição do capital religioso ira determinar a posição de cada agente religioso e suas disposições diante do mercado de bens simbólicos.

A disputa no campo religioso segundo Bourdieu ocorre ente o sacerdote o profeta e o mago, Bourdieu no seu trabalho na sua sociologia da religião utilizou elementos de Weber. Para Bourdieu, o profeta não é tanto o homem extraordinário como fala Weber, mas o homem das situações extraordinárias, sendo a linguagem que ele detém a do exorcismo. A sociologia da Religião de Bourieu é a sociologia do campo religioso, ele trabalha esta lógica como uma lógica mercadológica em que possui a oferta, produtores, consumidores e concorrência.

A sociologia proposta por Bourdieu que tem uma inspiração em Max Weber, denomina o sacerdote como o home da ordem ordinária, aquele que detém o monopólio da salvação. O sacerdote é aquele que tem o poder de desqualificar o profeta e o mago. No caso da Assembléia de Deus percebe que os pequenos grupos junto com os missionários foram desqualificados pelos representantes da igreja Batista. Os dois missionários estavam apresentando uma nova mercadoria era uma concorrência para aqueles que possuíam o monopólio da salvação.

O mago ou feiticeiro, para Bourdieu e aquele que vai pela contra mão, ele não está ligado a nenhuma instituição, ele rouba as praticas os rituais dos sacerdotes para vender o seu produto. O mago diferente do profeta, pois enquanto o profeta esta ligado a uma instituição e tenta exercer seu poder religioso o mago esta apenas apresentando um produto imediato para clientes que estão sempre em busca de novos produtos.

No entanto o campo religioso brasileiro com relação às igrejas históricas, pentecostais e neopentecostais, pode se observar um espaço de concorrência entre os detentores dos bens simbólicos de salvação. Nesta dinâmica do campo religioso estão presentes os três atores, o sacerdote o profeta e o mago que disputam o tempo todo para manter a posse do monopólio e a máxima concentração de capital.

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